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O Stress nosso de cada dia

Por João Cosso

Stress é uma palavra derivada do latim, que foi popularmente usada durante o século XVII para representar "adversidade" ou "aflição". Em fins do século XVIII, seu uso evoluiu para denotar "força", "pressão" ou "esforço", exercida primariamente pela própria pessoa, seu organismo e mente.
O conceito de stress não é novo, mas foi apenas desde o início do século XX que as ciências biológicas e sociais iniciaram a investigação de seus efeitos na saúde física e mental das pessoas.
Stress, segundo o austríaco Hans Selye, que primeiro o definiu, é qualquer adaptação requerida à pessoa. Portanto, ele é neutro e se torna positivo ou negativo de acordo com a percepção e interpretação de cada pessoa. O stress positivo, chamado de eustresse, assim como o negativo, chamado de distresse; causam reações fisiológicas similares: as extremidades (mãos e pés) tendem a ficar suados e frios, a aceleração cardíaca e pressão arterial tendem a subir, o nível de tensão muscular tende a aumentar, etc. No nível emocional, no entanto, as reações ao stress são bastante diferentes. O eustresse motiva e estimula a pessoa a lidar com a situação. Ao contrário, o distresse acovarda a pessoa, fazendo com que se intimide e fuja da situação.
Na disciplina de Psicologia Organizacional nos trouxe subsídios para uma análise dos principais aspectos ligados ao campo das organizações e do trabalho, que passam por um processo de intenso e complexo de transformação, onde leva o profissional de jornalismo, apenas mais um alvo destas transformações técnico-organizacionais do trabalho ao longo do tempo.
Assim, recente pesquisa da International Stress Management Association (Isma) no País indica que 70% dos brasileiros sofrem de estresse no trabalho. De acordo com a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da entidade, este número não difere muito do nível mundial. Segundo ela, a porcentagem é idêntica na Inglaterra. Nos Estados Unidos, sobe para 72%.
Antes do número, detalha a especialista, é preciso atentar para a qualificação do estresse, caracterizado por quatro fases: inicial, de resistência (quando os primeiros sintomas persistem), crônica, e burnout (é o nível mais avançado, em que a capacidade da pessoa de lidar com os percalços do dia-a-dia se esvaiu. Em inglês, burn significa "queimar" e out significa "fora", ou seja, é aquele estado em que a energia do indivíduo se perdeu).
O risco de suicídio é apenas uma entre várias outras conseqüências da síndrome, afirma. No trabalho, por exemplo, a pessoa já não consegue dar mais conta dos afazeres e se torna distante ou até mesmo agressiva com colegas e clientes - desenlaces violentos não estão descartados.
O estresse também está associado a uma infinidade de doenças. De acordo com a Associação Médica Americana, o estresse está direta ou indiretamente relacionado às seis principais causas de morte no mundo: doenças do coração, câncer, enfermidades do pulmão, acidentes, cirrose e suicídio. Nesse campo, o Japão ocupa o primeiro lugar, apresentando 70% de profissionais estressados em fase burnout. Em segundo está o Brasil, com 30% nesta fase; seguido pelos Estados Unidos, com 20%.
Procurando mais detalhes, Participaram da pesquisa 1.000 profissionais de diferentes áreas, como médicos, enfermeiros, psicólogos, dentistas, motoristas de ônibus urbano, seguranças públicos e privados, profissionais de atendimento público e jornalistas.
Em relação ao nível de estresse, os seguranças ocupam o primeiro lugar. "A situação de risco é muito grande nesta atividade. Mesmo fora do local de trabalho estes profissionais se sentem ameaçados e, em busca de maior remuneração, às vezes, atuam em locais extra-oficiais, que não oferecem equipamentos de proteção adequados", diz Ana Maria.
Em segundo lugar estão os motoristas de ônibus urbanos, que apresentam alta pressão arterial típica do estresse e, ao mesmo tempo, não podem tomar os remédios indicados para combatê-la, pelos efeitos diuréticos provocados por eles. Também ocupam essa posição os controladores de vôo.
Em terceiro lugar, encontram-se os executivos em geral, aqueles que lidam com atendimento ao público, e os profissionais da Saúde. Em quarto, estão os que trabalham fora da sua área de desempenho. "Como um professor talentoso, que é eleito diretor do colégio e passa a se dedicar com exclusividade a questões burocráticas da instituição", exemplifica.
Na quinta posição estão os jornalistas, que não têm controle das fontes de informação, e assumem a responsabilidade de gerar matérias com prazos acirrados.
É aí onde observamos,  também, os dados da pesquisa "Mudanças no mundo do trabalho e impactos na qualidade de vida do jornalista", de José Roberto Heloani, professor  da FGV-SP e do curso de pós-graduação da PUC-SP que desmistifica a profissão do jornalista apontando o trio "salário baixo - pressões - fechamento" como causa determinante do desgaste psíquico. É realmente difícil, nos dias de hoje, conseguir entregar uma boa matéria quando o profissional, além de apurar, redige, faz fotos, edita, revisa, dirige o carro, e ainda tenta convencer todo o santo dia o editor de que a matéria é relevante como pauta.
Em declaração a revista imprensa nº 185 de dez/2003, onde Heloani analisa: "Hoje o sujeito faz um pouco de tudo. Ele sabe que sua estabilidade na redação vai depender disso. Quando não for mais competente, estará na rua. Esse é o discurso que preconiza o trabalhador multifuncional, só que se esqueceu de dizer que, na verdade, se ele faz tudo, acaba fazendo de forma superficial. Por isso, é altamente descartável. O trabalhador jornalista, hoje, se tornou um proletário mais qualificado".
O quadro, corresponde a um esforço do organismo por se adaptar às solicitações do meio, pode, em últimas conseqüências, virar de fato uma doença.
De acordo com relatório elaborado pelos países membros da Comunidade Européia, os custos com os problemas de saúde mental, conseqüência dos níveis altos de estresse, consomem 3% a 4% do seu Produto Interno Bruto. Estima-se em US$ 300 bilhões, nos Estados Unidos,  os gastos anuais pelas empresas com problemas relacionados ao estresse no trabalho. De acordo com a presidente da Isma, o Brasil começa a dar seus primeiros passos na conscientização dos males causados pelo estresse.
Afinal, qual a solução para este mal? A psicologia indica algumas medidas para diminuir o estresse, como a conscientização das capacidades e limites do indivíduo, a disciplina para parar a atividade quando necessário, a serenidade para aceitar o que não é possível controlar, como o mau tempo, o trânsito, e o estilo de vida saudável.
Esse estilo implica um sono reparador, alimentação balanceada em períodos adequados, exercício físico de 30 minutos de duração (pelo menos quatro vezes por semana), abertura constante para a confidência da intimidade com outra pessoa de confiança e, finalmente, técnicas específicas de relaxamento, como uma simples respiração mais equilibrada.
Ana Maria Rossi, presidente da Isma,  destaca que a ânsia de aproveitar ao máximo as férias, mesmo que ela seja de longos trinta dias, pode impedir que o profissional relaxe. A solução pode estar em períodos mais curtos e mais freqüentes de férias. Por exemplo, três paradas de dez dias ou duas de quinze dias ao longo do ano.

Para os profissionais que sofrem de burnout - a fase mais avançada do estresse - as férias são menos eficientes ainda. Neste caso, a solução não é férias, mas tratamento com psicólogos. E provavelmente, uma revisão imediata nos hábitos.
Você acredita que os jornalistas conseguiriam colocar isso em prática? Diante do quadro é muito pouco provável, em função desse sistema tão maluco, onde o ser humano é realmente escravo do seu tempo.
Ma um outro fato que gostaria de destacar que deprime muito, é o fato de que, o jornalista com mais de 40 anos, no auge de sua profissão, está se tornando velho para o sistema, tal qual se apresenta hoje. Na amostra da pesquisa de Heloani, constituída aleatoriamente, foi marcante o predomínio de jovens (18 dos 22 entrevistados enquadravam-se na faixa de 20 a 39 anos). E aí aparece duas interpretações, ao meu ver muito preocupante: primeiro, por serem jovens, apresentam uma notável capacidade de driblar o estresse. Justificam-se pra si próprios com frases do tipo: "Não sei por quanto tempo vou agüentar" ou "Tem dias em que sento e choro". Somando-se a isso, a jornada média de trabalho, conforme os questionários, foi de 47,6 horas semanais, qual seja, 9,52 horas/dia (quase três vezes mais do que permitido pelo Sindicato dos Jornalistas); segundo vimos nas redações mais gente nova, onde nos vem a pergunta: E os veteranos, onde estão? Possivelmente desempregados ou exercendo outra profissão, do tipo vendas. Onde se conclui que aquele que resolveu enveredar por seguir uma nova profissão, que por um acaso é jornalismo, e tem mais de 40 anos, está fora do mercado, (não espalhe é o meu caso).
Após essa série de conclusões, torna-se quase inevitável uma angustiante reflexão. Ou acabamos com o sistema, ou então ele acaba conosco.


 

 
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