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Ato irresponsável vitimou Jean Charles, diz ex-comandante

Londres - O ex-comandante da Polícia Metropolitana de Londres, John O´Connor, numa carta publicada hoje pelo jornal The Guardian, afirma que a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes foi resultado de uma estratégia policial irresponsável. Segundo ele "os responsáveis pela introdução e implementação" na polícia de novas táticas no combate ao terrorismo são tão culpados como aqueles que dispararam os tiros.

Jean Charles foi morto por engano pela Polícia Metropolitana londrina, mais conhecida como Scotland Yard, no dia 22 de julho durante uma ação antiterrorismo na estação de metrô de Stockwell. O brasileiro foi atingido na cabeça por sete tiros. Desde então, a imprensa britânica vem revelando detalhes do caso que indicam que a Scotland Yard tentou abafar o caso, colocando sob pressão o chefe da corporação policial, Ian Blair. Uma comissão independente (IPCC na sigla em inglês) deverá concluir um inquérito sobre a morte de Jean Charles até o final deste ano.

Ao comentar um artigo publicado pelo Guardian na semana passada no qual o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, avaliou as conseqüências da morte de Jean Charles, O´Connor afirma que o atual debate sobre a política de "atirar para matar", ou ´Operação Kratos´, adotada pela Scotland Yard no combate ao terrorismo está equivocado. Segundo ele, a polícia sempre adotou uma estratégia de "atirar para parar".

O´Connor explica que nos tempos que a polícia usava revólveres Webley ou Smith & Wesson, com munição de baixa velocidade, havia uma taxa de 40% de sobrevivência entre as pessoas que eram atingidas no torso. "Atirar para parar se transformou em atirar para matar com a introdução da pistola Ruger com munição de alta velocidade", disse O´Connor. "As chances de sobrevivência com dois tiros no torso se tornaram nulas. Atirar para parar significa hoje atirar para matar". O´Connor afirma que a introdução na Scotland Yard de técnicas empregadas pelas forças de segurança israelenses aprofundaram ainda mais o problema. Ele explicou que a Operação Kratos determina que policiais armados dêem dois disparos na cabeça ao enfrentarem um homem-bomba.

Ele observa que os israelenses freqüentemente são confrontados com um homem-bomba que se aproxima de um posto militar de checagem. "Se ele não parar e não obedecer as ordens, é alvejado mortalmente na cabeça", disse. "Não consigo imaginar nenhum cenário no Reino Unido no qual um homem-bomba que sabidamente está carregando um explosivo seja confrontado por policiais armados."

Segundo O´Connor, isso somente poderia acontecer se uma testemunha informar à polícia que um suspeito está carregando uma bomba e as chances de isso ocorrer são remotas. "Eu acho impressionante que a polícia adote essas táticas para lidar com uma possibilidade remota ao invés da realidade", disse.

O´Connor afirma que "falar duro sobre atirar para matar e do ´tiro de excelência´ através da boca tem levado a diminuir o nível de cautela normalmente exercitado" pela polícia britânica. "A trágica morte de Menezes é o resultado direto de uma estratégia irresponsável e aqueles responsáveis por sua introdução e implementação precisam assumir a mesma porção de culpa daqueles que dispararam os tiros", concluiu.

 
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