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Autor de "O Mundo de Sofia" lança novo livro no Brasil

 

/Divulgação
Trecho

A história da garota das laranjas começa numa tarde em que eu estava esperando o bonde em frente ao Teatro nacional. Era o fim do outono de um dos últimos anos da década de 1970. Lembro que estava pensando na faculdade de medicina, na qual eu acabava de ingressar. Era estranho imaginar que um dia seria médico de verdade, que receberia no consultório clientes dispostos a pôr o destino em minhas mãos. De guarda-pó branco, aras de uma escrivaninha enorme, eu diria: "Vamos ter de pedir exame de sangue, sra. Johnsen", ou: "Faz tempo que a senhora sente isso?" Então o bonde finalmente chegou. Eu o vi de longe, vinha deslizando devagar, passou primeiro pelo parlamento, depois pela Stortingsgate. E, se há uma coisa que desde aquela tarde me fez ficar matutando, é o fato de eu simplesmente não lembrar aonde estava indo. Em todo caso, pouco depois, embarquei no bonde azul-claro lotado, cujo ponto final ficava em Frogner. A primeira coisa que notei foi uma estranha garota que viajava de pé, levando um saco de papel cheio de laranjas. Estava com um anoraque alaranjado, e o saco que apertava junto ao corpo com muita determinação era tão grande, tão pesado que aprecia prestes a cair de uma hora para a outra. Mas não foram as laranjas que me chamaram atenção, e sim a moça que as carregava. Vi imediatamente que ela tinha uma coisa muito especial, algo insondavelmente mágico e encantador.

São Paulo - O ex-professor de Filosofia norueguês Jostein Gaarder não se acomodou com o sucesso de livros como O Mundo de Sofia. Tem enfrentado desafios, como traduzir o conteúdo das Confissões de Santo Agostinho para adolescentes ou, no caso de A Garota das Laranjas (Companhia das Letras, 136 págs., R$ 27, tradução de Luiz Antônio de Araújo) , livro que lança hoje, em São Paulo, associar a paixão de um homem à investigação do cosmo pelo telescópio Hubble. Seu 14º livro é comovente. Narra a história de um adolescente de 15 anos que recebe uma carta de seu pai morto, extraviada 11 anos antes. Nela, ele conta como conheceu a garota de seus sonhos. Gaarder, que participa de vários encontros pelo Brasil este mês, falou ao Portal Estadão.com, por telefone, de Oslo, onde reside.

Desde seu primeiro sucesso, O Mundo de Sofia, você escreve livros segundo o ponto de vista do adolescente. Por quê?
Escrevo livros para jovens, mas são os adultos que mais lêem. Acredito que o mundo está precisando de boas histórias, sejam elas histórias infantis consumidas por adultos ou vice-versa. Estamos atrofiando nossa imaginação. Tento, portanto, me comunicar com os jovens, os mais prejudicados com o isolamento que a tecnologia impõe, afastando o adolescente da vida comunitária que produz essas boas histórias.

É inusitado, mas A Garota das Laranjas está sendo recomendado por uma associação espírita estrangeira. Você acredita em vida após a morte?
Não, mas gostaria de não estar certo. O fato é que adoro viver. É uma lástima que tenhamos de morrer. Tenho a mesma crença do pai morto de A Garota das Laranjas. A vida continua com nossos descendentes e é preciso orientá-los. É exatamente o que faz o pai, deixando uma carta para que o filho, ao crescer, possa entender sua mensagem. Nesse sentido, talvez o livro possa ser lido como espírita, mas não deveria. É apenas uma obra sobre o diálogo.

Simultaneamente ao livro A Garota das Laranjas, sua editora está relançando O Livro das Religiões. Você tem alguma crença pessoal?
Na Índia ou no Irã, diria que sou cristão. Não necessito outra ética que não esteja na Bíblia. Jesus Cristo é muito importante para mim, mas se você me pergunta se eu acredito que ele seja o filho de Deus ou na sua ressurreição, direi que não. Como filósofo, tenho a obrigação de ser honesto. Digo, então, que acredito na vida.

Jostein Gaarder no Brasil
Bate-papo: Teatro do Colégio Santa Cruz. R. Oboró, 3024-5191. Hoje, 20h. Grátis (reservas pelo 3032-6856)
Lançamento do livro A Garota das Laranjas, Cia. das Letras, 136 págs., R$ 27 . Livraria Cultura/Shop. Villa-Lobos. Av. das Nações Unidas, 4.777, 3024-3599. Sábado, 16h
Palestra em Passo Fundo. Universidade de Passo Fundo. BR 28, km 171, Bairro São José, em Passo Fundo, (54) 316-8368. Grátis (vagas limitadas)
Palestra em Brasília. Pátio Brasil Shopping. SCS, Quadra 7, Bloco A, (61) 2107-7400. Segunda (29), das 14h às 16h

 
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