Deixando personagens de mulheres glamourosas de lado, a atriz Tônia Carrero interpreta uma professora aposentada repleta de problemas na peça Chega de História!.
A atriz surpreendeu-se quando o diretor e dramaturgo Fauzi Arap lhe ofereceu o papel. O texto, escrito por ele, pedia que Tônia não apenas falasse alto e gesticulasse muito, como ainda usasse com um vestido puÃdo, sapatos simples e ainda uma touca na cabeça. "A Dona Filó não tem nada a ver comigo, o que me deixou muito motivada", conta Tônia que, depois de se aquecer em apresentações especiais pelo interior paulista, estréia hoje para convidados no Espaço Promon.
É a quarta vez que Tônia trabalha com Arap - a primeira, em 1967, com Navalha na Carne, de PlÃnio Marcos, marcou a estréia profissional do diretor. "Trata-se de uma relação muito especial, pois o Fauzi sabe como me conduzir", comenta Tônia, que se diverte com o frisson da platéia no momento em que entra em cena. "Meu personagem é algo inesperado para muita gente, daà esse estranhamento", conta a atriz.
O espetáculo mostra o encontro de Dona Filó, uma professora aposentada, com Eurico, administrador de um centro cultural que está prestes a fechar as portas.
O motivo do encontro é uma palestra que a mulher deverá fazer sobre imigração, mas, repentinamente, ela desfia todos os seus problemas, desde as agruras da velhice até a difÃcil condição de vida imposta pela magra aposentadoria. "A palestra acaba por transformar-se em um verdadeiro psicodrama público, em que são desnudadas as precárias condições em que sobrevivem a educação e a cultura do nosso PaÃs", afirma Arap, na divulgação do espetáculo.
Próxima dos 83 anos, que completa no dia 23 de agosto, Tônia sente-se recompensada em participar de textos provocativos. "Quase não faço mais cinema ou televisão, por isso o teatro é minha melhor forma de expressão, especialmente quando assumo papéis que nunca sonhei interpretar."
No palco, Tônia divide a cena com Nilton Bicudo, ator com quem já contracenou em O Jardim das Cerejeiras, em 2000. O entrosamento, segundo ela, foi imediato - mesmo realizando um papel ingrato, o do burocrata que não admite desvios de conduta, Bicudo faz um interessante contraponto com Dona Filó. "A ponto de, no fim, Eurico se humanizar e consentir com toda a reclamação da professora aposentada."
Chega de História! - Texto e direção: Fauzi Arap. Com Tônia Carrero e Nilton Bicudo. 75 min. 14 anos. Espaço Promon (349 lugares). Av. Juscelino Kubitscheck, 1.830, Itaim-Bibi, São Paulo, fone (011) 3847-4111. 6.ª, 21h30; sáb., 21h; dom., 19h. R$ 40. Até 25/9. Estréia hoje.