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Rio e Belo Horizonte têm protestos contra morte de freira

Wilton Junior/AE
Rio de Janeiro - Cerca de 200 pessoas se reuniram na Cinelândia, centro do Rio, para protestar contra a morte da missionária Dorothy Stang, que completou sete dias ontem. Vestidos de branco, eles seguiram em passeata até a estátua de Mahatma Gandhi, cerca de 500 metros à frente. Um culto ecumênico, que reuniu freis católicos, pastores luteranos, presbiterianos e batistas, e mães de santo, encerrou o ato, que teve a participação de artistas, políticos, militantes do Movimento Sem Terra e de Ongs de combate à violência.

O padre Ricardo Rezende, que viveu 20 anos no sul do Pará - 18 dos quais sob ameaças - e conheceu a irmã Dorothy, criticou a falta de proteção à vida da missionária. "Estive no Pará em janeiro, entrevistei 20 lideranças que estavam ameaçadas. O ministro Márcio Tomaz Bastos esteve lá em dois de fevereiro e tomou conhecimento dos riscos. Ela foi assassinada há uma semana e continuava sem seguranças".

Rezende não está convencido de que o envio de tropas do Exército vá garantir a segurança dos líderes sindicais. "José Sarney, quando era presidente, enviou o Exército para promover o desarmamento. Retirou facões e foices de trabalhadores e deixou os pistoleiros armados", lembrou. "O governo precisa instituir medidas punitivas, com prisão e julgamento justo, fazer a reforma agrária, o recadastramento de terras".

O deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) defendeu a necessidade da votação da projeto de emenda constitucional que desapropria áreas em que foi constatado o trabalho escravo. "O projeto não foi a plenário por pressão da bancada ruralista, que votou em peso no Severino Cavalcanti (PP-PE). Meu temor é que essa emenda nem entre em pauta", afirmou. A juíza do Trabalho Cláudia Reina acompanhou a passeata ao lado do desembargador Siro Darlan. "Há muitas denúncias de trabalho escravo, mas não temos competência para julgar o crime, apenas o desrespeito às leis trabalhistas. Em todo o País, a Justiça Federal puniu dois ou três casos", lamentou.

Artistas como Camila Pitanga, Marcos Winter, Osmar Prado, Beth Mendes, Chico Diaz estiveram no ato, organizado pelo Movimento Humanos Direitos, presidido por Winter. A passeata foi aberta por um grupo de freiras da congregação de Notre Dame, a que pertencia irmã Dorothy. Elas carregavam uma faixa com a inscrição "eu também sou irmã Dorothy". "A gente se arrepia só de pensar que uma vida foi sacrificada brutalmente porque lutava justamente pela vida. Não há palavras para descrever um homem sem Deus", disse a irmã Hedy Klein.

Belo Horizonte

Na capital mineira, cerca de mil pessoas protestaram contra o assassinato da freira. O ato foi promovido pela Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte e pela regional da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). A manifestação vinculou o crime no Pará às chacinas de quatro funcionários do Ministério do Trabalho e de cinco integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), ambas ocorridas em Minas Gerais, no ano passado. "A raiz desses crimes é a mesma: a impunidade", disse o deputado estadual Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. "Os processos são muito morosos e há dificuldades de punição, principalmente dos mandantes".

O deputado petista também cobrou uma atitude mais firme do governo federal na implementação da reforma agrária e elegeu o agronegócio como o responsável pelos assassinatos em Unaí, Felisburgo e Anapu (PA). "Esses crimes são crimes do agronegócio. A morte da irmã Dorothy significa mais um crime do agronegócio", afirmou.

Os manifestantes se concentraram no início da tarde em frente ao Tribunal de Justiça, para "simbolizar o clamor por justiça e punição dos culpados". Depois caminharam pela avenida Afonso Pena até a Igreja de São José, onde foi realizada uma missa pelo sétimo dia da morte da religiosa norte-americana.

 
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