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Carrasco, Paolo Rossi relembra 82

São Paulo - Os três gols que Paolo Rossi fez naquela tarde de 5 de julho de 1982 no Estádio Sarriá, em Barcelona, traumatizaram os torcedores brasileiros e marcaram negativamente a mais brilhante Seleção que houve depois da Copa de 1970. O "bambino d’oro" (menino de ouro) italiano virou sinônimo de "carrasco" no Brasil por ter tirado da Copa o time de Telë Santana. Mas aqueles gols também deixaram uma marca no artilheiro. Foram 14 anos de carreira entre juvenil e profissional, com muitos títulos e muitos gols, mas todos só se referem a ele como "o homem que acabou com o Brasil em 82". "É estranho, as pessoas me ligam apenas àquela partida. Parece que foi a única da minha carreira, que eu não fiz mais nada além daqueles três gols contra o Brasil. Mas não acho isso ruim, reconheço que foi o jogo mais importante da minha vida", disse Paolo Rossi, que em setembro completará 48 anos de idade.

O carrasco brasileiro conversou com o JT por telefone, falando de sua casa em Vicenza. Ele é dono de uma imobiliária, mas isso não significa que deixou o futebol de lado. "Não, de jeito nenhum. Não quis ser técnico nem dirigente, mas vejo muitos jogos na tevê e às vezes me chamam para trabalhar de comentarista. Sou fanático por futebol e vou ser sempre assim."

Rossi só não se arrisca a jogar mais. Quando perguntado se ainda bate uma bolinha de vez, ele deu uma risada e respondeu com bom humor. "É melhor que as pessoas se lembrem dos meus bons momentos como jogador. Se for jogar hoje, vou arruinar minha imagem."

A Copa de 82 foi um marco na carreira de Rossi. Ele já tinha jogado um Mundial - na Argentina, em 78 -, mas chegou à Espanha visto com desconfiança por torcedores e jornalistas italianos. O motivo? Ficou dois anos suspenso sob a acusação de ter participado de um esquema para "fabricar" resultados de jogos incluídos nos testes da loteria e só pôde voltar aos campos pouco mais de um mês antes da Copa.

O técnico Enzo Bearzot, que era fã de seu futebol, bancou sua convocação e suportou as críticas, que se tornaram mais intensas por causa de seu pífio desempenho nos primeiros jogos do torneio. A Itália empatou as três partidas da primeira fase (Polônia, Peru e Camarões) e Rossi não balançou a rede. Na estréia na segunda fase, passou em branco na vitória por 2 a 1 sobre a Argentina. E então chegou o dia de enfrentar o Brasil.

Com craques do quilate de Zico, Falcão, Sócrates, Cerezo, Júnior e Leandro, a Seleção havia vencido seus quatro jogos e mostrado um futebol de encher os olhos. Bastava um empate contra a Itália para encontrar a Polônia na semifinal. Mas Paolo Rossi acordou e acabou com o sonho brasileiro. Fez todos os gols na vitória por 3 a 2, marcou os dois nos 2 a 0 sobre a Polônia e abriu o placar na vitória por 3 a 1 sobre a Alemanha na final. "Todos diziam que o Brasil era o favorito, mas nós sabíamos que podíamos ganhar. Entramos em campo muito motivados."

Críticas - Paolo Rossi revela um detalhe interessante da trajetória italiana naquela Copa. Em sua opinião, ter jogado primeiro contra a Argentina foi muito útil para a Itália. "Não tínhamos jogado bem na primeira fase e enfrentamos um time, que tinha Maradona, Kempes, Passarella, Ramón Diaz...Ganhamos o jogo e acordamos, nos enchemos de confiança. Aquela vitória nos mostrou que poderíamos ganhar de qualquer um, até do Brasil."

Ele abriu o placar com um gol de cabeça e logo Sócrates empatou. Ainda no primeiro tempo, cortou um passe errado de Toninho Cerezo e fez 2 a 1. Falcão empatou aos 23 da segunda etapa, mas seis minutos o carrasco definiu o placar. "Quando Falcão empatou foi um baque, porque teríamos que recomeçar tudo de novo. Mas não perdemos a esperança."

Apesar de morar em Vicenza e de não trabalhar no futebol, Rossi mantém contato com seus companheiros de 82. "Falo mais com Tardelli, Cabrini, Gentile e Graziani. Cada um seguiu sua vida, mas fizemos algo bonito juntos e nos tornamos grandes amigos."

Rossi sente saudade daquele time por algo que não vê na seleção que acabou de ser eliminada na primeira fase da Eurocopa. Ele diz que aquele elenco reagiu no meio da Copa por ser formado por vários jogadores de personalidade, que não se encolhiam nos momentos difíceis. "O time de 82 tinha temperamento, caráter para enfrentar os grandes desafios. A Itália que foi para esta Eurocopa mereceu a eliminação, porque não mostrou nem futebol nem personalidade."

Ele é duro ao analisar a seleção de hoje. Criticou o desempenho de Vieri, Totti e Del Piero e disse que os jogadores não têm o direito de reclamar do empate suspeito por 2 a 2 entre Dinamarca e Suécia que eliminou o time. "Tenho certeza de que a Itália também empataria por 2 a 2 se a situação fosse a inversa."

Assim como tem saudade da seleção tricampeã do mundo, Paolo Rossi tem saudade do futebol que se jogava nos anos 80. Ele reclama que o jogo de hoje é mais físico e coletivo e por isso não se vê tanto brilho individual como há 20 anos. "Naquela época, o Campeonato Italiano tinha Maradona, Zico, Platini, Boniek, Falcão...Todos craques com ‘c’ maiúsculo. Hoje não existem jogadores como esses, por isso o futebol não é mais tão bonito."

Kaká - E quem são os craques de hoje? Rossi pensa e vai dando sua lista devagar. "O melhor é o Zidane, é o mais completo. Quem mais... Tem o Thierry Henry, o Totti...Gosto muito do Van Nistelrooy, é um grande goleador. Estão falando muito bem desse menino inglês, o Rooney."

Nenhum brasileiro na lista, Rossi? Ele dá uma risadinha, como se fosse um pedido de desculpas, e começa a pensar. "Não sei... Vi o jogo contra a França mês passado, mas aquilo foi mais uma festa do que uma partida. Deixe eu ver...Ah, tem o Kaká! É claro, o Kaká! Ele é um grande, o melhor jogador brasileiro. Vale a pena pagar o ingresso só para vê-lo jogar. Sua corrida é elegante, ele tem técnica e chuta muito bem. Sem dúvida, é um craque."

 
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